segunda-feira, 14 de julho de 2014

Eu Pudia tá Matano, Eu Pudia tá Robano...

Quem pega ônibus nesta pacata capital do Ceará, já deve muito bem saber do que trata esse texto. Para os que não são daqui de Fortaleza, eu explico. Se você estiver fazendo um trajeto normal pela cidade de ônibus há umas seis (talvez oito ou nove...) chances em dez de você cruzar com um vendedor de busão.
O sujeito entra no ônibus e passa a anunciar seu produto, pra quem quiser comprar. Após algumas vendas, ele desce e parte pra outro busão...
Os vendedores de busão basicamente vendem canetas que não funcionam, pacotes de jujuba ou balas de gengibre. Já vi os que vendiam alguma coisa que é ou chaveiro ou imã de geladeira, mas não sei bem.
O discurso padrão é mais ou menos assim:


“Bua tarde sinhoras e sinhores passagerus. Eu tô aqui vendeno esse produto (substitua “produto” por caneta/ jujuba/ bala de gengibre/ coisa que parece chaveiro) pra sustentá minha família, pagá o aluguel da minha mãe, levá leite pras criança lá em casa. Eu sou um pai de família, eu pudia ta matano, eu pudia ta robano, fazeno coisa errada mas tô aqui tarbalhano. Gente, eu vô passá pra cada um dá uma olhadinha no meu produto. É sem compromisso! Quem quisé um, pode me chamá.”

Em prol de uma melhor recepção perante os variados consumidores que frequentam busões, apresento variações nos discursos, para que o vendedor de busão possa se adequar melhor aos mais variados públicos-alvos.

Versão politizada: “Bua tarde companherus. Eu tô aqui vendeno esse produto (substitua “produto” por caneta/ jujuba/ bala de gengibre/ coisa que parece chaveiro) pra financiá a revolução do protelariadu. Eu sou um combatenti desse capitalismu destruidô, eu pudia ta pegando em arma, indo pras luta armada, mas tô aqui tarbalhano. Pur que só atravéis da revolução o capitalismo vai caí, e a ditadura do protelariado vai triunfá! Gente, eu vô passa pra cada um dá uma olhadinha no meu produto. Vem junto o nosso manifestu. É sem compromisso! Quem quisé um, pode me chamá. Viva márquis!”

Versão elegante: “Boa tarde, caros senhores passageiros... estou aqui vendendo esses pitorescos artigos, para que meus entes familiares tenham condições humanamente aceitáveis de vida. Eu poderia estar pelas ruas, os destituindo de seus bens, tirando a vida humana, porém, resolvi trilhar o caminho do labor honesto. Senhores, entregarei a cada um meu produto, para vossa apreciação. Não há compromisso! Os interessados, podem me chamá.Eu disse ‘chamá’? Peço-os perdão. Creio que fui traído pelo coloquialismo.”

Versão aterrorizadora: Bua tarde sinhoras e sinhores passagerus. Eu tô aqui vendeno esse produto (substitua “produto” por caneta/ jujuba/ bala de gengibre/ coisa que parece chaveiro) pra sustentá minha família, pagá o aluguel da minha mãe, levá leite pras criança lá em casa. Eu sou um pai de família, eu pudia tá matano, estorano suas cabeça eu pudia ta degolano genti... Eu pudia até usá esse 38 que eu tenho aqui na cintura... Quem quer bala? Tem de gengibre com mel, cravo e canela...

Este texto é sobre alguma classe social. se você está ofendido, o texto não objetivava lhe atingir, eu sinto. Mas tomar dores de alguma classe social é coisa de burguês decadente.

12 comentários:

Neudson Aquino disse...

Huhaiuhauiahiuaaa

Muito bom isso...só perde um pouco da graça pq tá escrito (mas não dava pra ser de outro jeito né? rsr)...a "entonação" desses ilustres vendedores é q convence vc....rsrs

PS: a versão elegante foi escrita pelo Diêgo?!

Geisa G.M. disse...

as canetas da casa manassés são boazinhas!!!! :D

Anônimo disse...

Poxa vida. Até o Diêgop foi lembrado aqui. Certo que ee prima por suas palavras, mas tenho a certeza de que ele ainda não abriu nenhum curso de convencmento à compra de produtos (leia canetas/jujubas/gengibre/coisa parecida com chaveiro).
No mais, sempre muito nteligente e cômica.
até, Rapá!

Fabianny de Alencar disse...

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

a elegante é a mais tosca!

essa foi boa Redi, lembrando que tem um texto sobre o povo do Manasés lá no "como eu vim parar aqui" XD

Larys disse...

HAUHAUAHUAHUAHUAHAUHAUAHUA! Rédi, tu num existe!!!! Massa demais! Agora, a participação especial do Diego foi tudo!!! Diego sempre em situações esdrúxulas, ou sendo punk e espalhando o terror em Londres ou sendo um vendedor de jujuba, caneta, chaveiro ou coisa parecida, nos ônibus!!! Me acabei de rir, meu Deus! XDDD

Alana Bauer Lacerda disse...

No Rio Grande do Sul isso também acontece (principalmente com crianças). Tenho dois casos com os quais vou contribuir:
Metrô:
"... a gente podia tá matano, robano (blablabla)... Então a gente vai cantá duas música do Bruno e Marrone!" (Ai meus ouvidos!)

Ônibus em Porto Alegre:
(protagonizado por um pirralho de não mais que 5 anos, prestem atenção ao terceiro item...)
"Meus amigos e minhas amigas. Eu podia está matano, robano, ME PROSTITUINO... (blablabla)..."

=|

Rafael Salvador disse...

Hoje eu comprei umas balas de gengibre no primeiro busão da minha viagem pra casa. quando peguei o segundo ônibus no terminal apareceu outro vendedor...

Esse Sindicato Dos Vendedores Que-Podiam-Estar-Roubando tá se expandindo muito rápido...

[ah, a bala de gengibre é boa mesmo!]

Anônimo disse...

as vezes entra os cara com a maior pinta d drogado vendendo essas canetas da casa de recuperação...

esses devem ser os representantes da versão aterrorizadora...huahuahua

eu nunca comprei nada, mas as balas d gengibre são boas o/

huhuhu

*J. Sampaio disse...

PQP (eu coloco em sigla pq não falo palavrão! Hehe...), texto muito massa, Rédi!!! A-D-O-R-E-I!!! Gostei muito do vendedor politizado... tu só esqueceu do "companheiro"... hehe...
Eu já comprei os bombons de coração e uma bala que eles dizem que é de chocolate, mas tem gosto de laranja (?)... o pior é que o troço é bom!!! Huahuahauhauahauhaua...
Virei fã desse blog.

bJUs.

*J. Sampaio disse...

Não podia deixar de responder ao comentário da tua prima...
Caraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaca, ainda bem que aqui eles não cantam né?!? Já pensou se fossem cantarolar os belos forrós aos nossos pés de ouvido... É muita pressão meu povo, haja um "reial" todo dia...
Uma vez, lá no terminal da Parangaba, um pivete depois de muito dizer que "podia tá matano, podia tá roubano, que não tem mãe, que é criado pela vó e que o pai dele é duente da prosta" pediu aos passageiros que, caso não tivessem dinheiro, poderiam acessar o site dele depois para fazer uma contribuição. Olha só o endereço: www.medeumreal.com.br... kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk... Muito hilário!!! 'Nóis' sofre, mas se diverte!!! :)

bjocas.

Alunissada disse...

Tenho certeza q algum deles enguliram um radio, aquela voz daquelas criancinhas nao existe.

Unknown disse...

Ah, que maldade, não se esqueça que o cara pudia tá matando ou roubano... mesmo assim me acabei de rir!